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mercoledì 29 giugno 2022

Plínio Arruda Sampaio

 Oito anos atrais, um combatente da reforma agraria no Brasil, se foi. Meu ex-chefe na FAO, Marcos Lins Correia, sempre me falou bem dele, por isso achei bom colocar esse artigo publicado pelo Correio da Cidadania em 2014.


“Com quase 84 anos, Plínio de Ar­ruda Sam­paio se foi. A maior parte da sua vida, de­di­cada à luta so­cial, à mi­li­tância de es­querda e aos es­tudos po­lí­ticos sobre o Brasil. Suas re­fle­xões, con­tudo, per­ma­necem to­tal­mente vivas: qual re­vo­lução bra­si­leira mo­veria o país no sen­tido da su­pe­ração das he­ranças co­lo­niais? Como romper com a se­gre­gação so­cial? Quais in­te­resses de­ve­riam ser en­fren­tados? Como su­perar a de­pen­dência ex­terna? Todas essas in­da­ga­ções en­con­travam, si­mul­ta­ne­a­mente, uma res­posta pos­sível na luta pela re­forma agrária. Talvez por isso, Plínio tenha con­cen­trado os es­forços po­lí­ticos de toda sua vida na com­pre­ensão pro­funda da questão agrária na­ci­onal.

Ele par­ti­cipou ati­va­mente de um dos con­flitos po­lí­ticos mais re­le­vantes da his­tória bra­si­leira re­cente: a luta pela trans­for­mação agrária no go­verno Jango. Foi re­lator do plano de re­forma agrária que com­punha as re­formas de base. Eram tempos de ge­nuína po­la­ri­zação po­lí­tica, em que pro­jetos es­tru­tu­ral­mente di­fe­rentes de “mo­der­ni­zação” do país se con­fron­tavam. 

Não à toa, a ide­o­logia do­mi­nante, que mi­me­tiza seus ini­migos para assim neu­tra­lizá-los, vestiu a rou­pagem de uma re­forma agrária con­ser­va­dora e ca­pi­ta­lista, adap­tando-a ao lé­xico da Ali­ança para o Pro­gresso em 1962. O mesmo pro­ce­di­mento foi se­guido pelo go­verno Cas­telo Branco, que ela­borou o cons­tructo ide­o­ló­gico do Es­ta­tuto da Terra de 1964. Os mi­li­tares in­cluíram em seu vo­ca­bu­lário os termos que mais te­miam, em­ba­ra­lhando a lin­guagem para as­se­gurar a do­mi­nação. Deu mais certo do que se po­deria ima­ginar. Afinal, a con­fusão entre “co­lo­ni­zação” e “re­forma agrária” ficou se­lada no dis­si­mu­lado nome do INCRA (Ins­ti­tuto Na­ci­onal de Co­lo­ni­zação e Re­forma Agrária).

As pro­postas de re­forma agrária do Plínio ame­a­çavam trans­formar ver­da­dei­ra­mente o Brasil, pôr fim às nossas he­ranças co­lo­niais mais pro­fundas. Entre elas, o la­ti­fúndio, mola pro­pul­sora que ali­menta a po­breza das pe­ri­fe­rias ur­banas e pre­serva os pri­vi­lé­gios de um pu­nhado de ru­ra­listas. Por isso, os gol­pistas de 1964 mi­raram Plínio sem de­mora. Es­teve na lista dos cem pri­meiros ci­da­dãos bra­si­leiros com di­reitos po­lí­ticos cas­sados pelo Ato Ins­ti­tu­ci­onal nú­mero 1, na pri­meira se­mana da di­ta­dura. Exi­lado du­rante 12 anos, viveu no Chile e nos Es­tados Unidos, tra­ba­lhando para a FAO, se apro­fun­dando nos es­tudos sobre eco­nomia agrí­cola e di­reito à terra. Acu­mu­lava forças para quando se re­cu­pe­rassem as con­di­ções de dis­puta po­lí­tica aberta no país.

Quando voltou, em 1976, en­gajou-se no MDB, mas logo rompeu com o grupo de Fer­nando Hen­rique Car­doso para fundar o PT, onde mi­litou por 25 anos. Con­ti­nuou ar­ti­cu­lando o plano de trans­for­ma­ções agrá­rias, tor­nando-se im­pres­cin­dível re­fe­rência para os mo­vi­mentos so­ciais e pre­si­dente da As­so­ci­ação Bra­si­leira de Re­forma Agrária (ABRA). Seu pro­jeto, porém, re­sul­tado de dé­cadas de lutas po­lí­ticas e so­ciais, foi ar­qui­vado pelos go­vernos pe­tistas. Com sua tá­tica de evitar o con­fronto, o PT optou de­li­be­ra­da­mente por não fazer a re­forma agrária – nem a de Plínio, nem qual­quer outra. O go­verno de Dilma (2010-2014), como mos­tram os dados do INCRA, as­sentou menos fa­mí­lias que FHC na média anual."

 

https://www.correiocidadania.com.br/politica/10078-25-09-2014-plinio-e-a-reforma-agraria

 

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